A Salvadora Compassiva
Kwan Yin é a Salvadora Compassiva do
Leste. Por todo o Oriente altares dedicados a esta Mãe da Misericórdia podem
ser achados em templos, casas e grutas nos caminhos.
Orações à Presença dela e à sua Chama estão
incessantemente nos lábios dos devotos à medida que buscam orientação e socorro
em todas as áreas da vida.
Orações à Presença dela e à sua Chama
estão incessantemente nos lábios dos devotos à medida que buscam orientação e
socorro em todas as áreas da vida.
Muito presente na cultura oriental,
Kwan Yin tem despertado interesse em seu caminho e ensinamento entre um número
crescente de devotos ocidentais, que reconhecem a poderosa presença da
"Deusa da Misericórdia", junto com a da Virgem Maria, como iluminadora
e intercessora da Sétima Era de Aquário.
A longa história de devoção a Kwan Yin
mostra-nos o caráter e o exemplo desta Portadora de Luz que não somente dedicou
sua vida a seus amigos mas sempre assumiu o papel de intercessora e redentora.
Durante séculos, Kwan Yin simbolizou o grande ideal do Budismo Mahayana em seu
papel de bodhisattva (chinês p'u-sa), literalmente, "um ser de bodhi, ou
iluminação", destinado a se tornar um Buda, mas que renunciou ao êxtase do
nirvana, como um voto para salvar todas as crianças de Deus.
O nome Kwan Shih Yin, como é
freqüentemente chamada, significa literalmente "aquela que considera,
vigia e ouve as lamentações do mundo". Segundo a lenda, Kwan Yin estava
para entrar no céu, porém parou no limiar ao ouvir os gritos do mundo.
Origem da devoção
Existe ainda muito debate acadêmico
relativo à origem da devoção à bodhisattva feminina Kwan Yin. Ela é considerada
a forma feminina de Avalokitesvara, bodhisattva da misericórdia do Budismo
indiano, cuja adoração foi introduzida na China no terceiro século.
Estudiosos acreditam que o monge
budista e tradutor Kumarajiva foi o primeiro a se referir à forma feminina de
Kwan Yin, em sua tradução chinesa do Sutra do Lótus, em 406 a .C. Dos trinta e três
aparecimentos do bodhisattva mencionados em sua tradução, sete são femininos.
(Devotos chineses e budistas japoneses desde então associaram o número trinta e
três a Kwan Yin.)
Embora Kwan Yin tenha sido retratada
como um homem até o século X, com a introdução do Budismo Tântrico na China no
século oitavo, durante a dinastia T'ang, a imagem da celestial bodhisattva como
uma bela deusa vestida de branco era predominante e o culto devocional a ela
tornou-se crescentemente popular. No século nono havia uma estátua de Kwan Yin
em cada monastério budista da China.
Apesar da controvérsia acerca das
origens de Kwan Yin como um ser feminino, a representação de um bodhisattva,
ora como deus, ora como deusa, não é inconsistente com a doutrina budista. As
escrituras explicam que um bodhisattva tem o poder de encarnar em qualquer
forma - macho, fêmea, criança e até animal - dependendo da espécie de ser que
ele procura salvar. Como relata o Sutra do Lótus, a bodhisattva Kwan Shih Yin,
"pelo recurso de uma variedade de formas, viaja pelo mundo, conclamando os
seres à salvação". *
Pela lenda do século XII , do santo
budista Miao Shan, a princesa chinesa que viveu em aproximadamente 700 a .C. e que largamente se
acredita tenha sido Kwan Yin, reforça a imagem da bodhisattva feminina. Durante
o século XII monges budistas estabeleceram-se em P'u-t'o Shan - a ilha-montanha
sagrada no Arquipélago de Chusan, ao largo da costa de Chekiang, onde se
acredita tenha Miao Shan vivido por nove anos, curando e salvando marinheiros
de naufrágios -, e a devoção a Kwan Yin espalhou-se ao longo do norte da China.
Essa ilha pitoresca tornou-se o centro
principal de adoração à Salvadora misericordiosa; multidões de peregrinos
viajavam dos mais remotos cantos da China e até mesmo da Manchúria, Mongólia e
Tibet para assistir ali às cerimônias religiosas. Houve época em que havia mais
de cem templos na ilha e mais de mil monges. As tradições narram inúmeras
aparições e milagres de Kwan Yin na ilha, sendo relatado que ela aparecia aos
fiéis em uma certa gruta local.
Na seita "Terra Pura" do
Budismo, Kwan Yin faz parte de uma tríade governante que é representada
freqüentemente em templos e é um tema popular na arte budista. Nessas pinturas
o Buda da Luz Ilimitada - Amitabha (chinês A-mi-t'o Fo e japonês Amida) está no
centro; à sua direita está o Bodhisattva da força ou poder, Mahasthamaprapta, e
à sua esquerda está Kwan Yin, personificando a misericórdia infinita.
Teologia Budista
Na teologia budista, Kwan Yin é às
vezes representada como comandante do "barco da salvação", guiando
almas ao paraíso oriental de Amitabha ou Terra Pura - a terra do êxtase onde
almas podem renascer para receber instruções contínuas no sentido de alcançar a
iluminação e a perfeição. A jornada à Terra Pura é freqüentemente representada
em xilogravuras mostrando barcos cheios de seguidores de Amitabha, sob o
comando de Kwan Yin. Amitabha, uma figura muito amada por budistas que desejam
renascer em seu paraíso oriental e libertar-se da "roda do
renascimento", é tido, num sentido espiritual ou místico, como o pai de
Kwan Yin. Lendas da escola Mahayana relatam que Avalokitesvara nasceu de um
raio de luz branca emitido pelo olho direito de Amitabha, quando mergulhado em êxtase. Assim ,
Avalokitesvara, ou Kwan Yin, é considerada como o "reflexo" de
Amitabha - uma encarnação posterior de "maha karuna" (grande
misericórdia), a qualidade que Amitabha personifica em seu mais elevado
sentido. Muitas figuras de Kwan Yin podem ser identificadas pela presença de
uma pequena imagem de Amitabha em sua coroa. Acredita-se que a misericordiosa
redentora Kwan Yin expressa a compaixão de Amitabha de uma forma mais direta e
pessoal, e que as preces a ela dirigidas são atendidas mais rapidamente.
A iconografia de Kwan Yin a descreve de
muitas formas, cada uma revelando um aspecto único de sua misericordiosa
presença. Como a sublime Deusa da Misericórdia, cuja beleza, graça e compaixão
vieram a representar o ideal de feminilidade do Oriente, ela é retratada
freqüentemente como uma mulher esbelta em um esvoaçante manto branco,
carregando em sua mão esquerda um lótus branco, símbolo de pureza. Está
enfeitada com ornamentos simbolizando suas realizações como bodhisattva, ou é
mostrada sem ornamentos, como um sinal de sua grande virtude. A figura de Kwan
Yin é retratada freqüentemente como "doadora de crianças" que são
encontradas em casas e templos. Um grande véu branco cobre sua forma inteira e
ela pode estar sentada em um lótus. Freqüentemente ela é representada com uma
criança em seus braços, próxima a seus pés, ou sobre seus joelhos, ou, ainda,
com várias crianças ao seu redor. Neste papel, a ela se referem como "a
honrada de branco vestida". Às vezes estão à sua direita e à sua esquerda
dois auxiliares, Shan-ts'ai Tung-tsi, o "homem jovem de capacidades
excelentes", e Lung-wang Nu, a "filha do Dragão-rei".
Poderes Curadores
Há uma confiança implícita na graça
salvadora e poderes curadores de Kwan Yin. Muitos acreditam que até mesmo a
mera invocação de seu nome a traz imediatamente ao lugar do chamado. Um dos
mais famosos textos associados à bodhisattva, o antigo Sutra do Lótus, cujo
vigésimo quinto capítulo, dedicado a Kwan Yin, e conhecido como o "Sutra
de Kwan Yin" descreve treze casos de desastres iminentes - de naufrágios a
incêndios, prisões, ladrões, demônios, venenos fatais e aflições cármicas - nas
quais o devoto é salvo quando se entrega ao poder de Kwan Yin. O texto é
recitado muitas vezes, diariamente, por aqueles que desejam receber os
benefícios prometidos. Os devotos invocam o poder e a misericordiosa
intercessão da Bodhisattva com o mantra OM MANI PADME HUM - "salve a jóia
no lótus", ou, como também tem sido traduzido, "salve Avalokitesvara,
que é a jóia no coração do lótus no coração dos devotos". Através do
Tibete e Ladakh, budistas têm inscrito OM MANI PADME HUM em pedras lisas de
oração, chamadas "pedras mani", como ofertas votivas a
Avalokitesvara. Milhares dessas pedras têm sido usadas para construir
muretas-mani que ladeiam as estradas que dão ingresso a aldeias e monastérios.
Acredita-se que Kwan Yin freqüentemente
aparece no céu ou nas ondas para salvar aqueles que a invocam quando em perigo. Histórias
pessoais podem ser ouvidas em Taiwan, por exemplo, de pessoas que a viram
durante a Segunda Guerra Mundial aparecendo no céu como uma jovem, agarrando as
bombas e cobrindo-as com as suas vestes brancas para que não explodissem.
Assim , altares dedicados à Deusa da
Misericórdia são encontrados em todos os lugares - lojas, restaurantes, até
mesmo em para-lamas ou painéis de carros. Nas casas ela é venerada com o
tradicional "pai pai", um ritual de oração que usa incenso, e também
com o uso de quadros de oração - folhas de papel com fotos de Kwan Yin, flores
de lótus ou pagodes e guarnecidas com centenas de pequenos círculos. Com cada
série de orações recitadas ou sutras lidos, em uma novena para um parente,
amigo, ou em causa própria, outro círculo é completado. O quadro tem sido
descrito como um "Navio de Salvação" por meio do qual almas que
partiram são salvas dos perigos do inferno e aquelas sinceras são transportadas
com segurança ao céu de Amitabha. Juntamente com os cultos elaborados com
litanias e orações, a devoção a Kwan Yin está expressa na literatura popular em
poemas e hinos de louvor.
Peregrinações
Os seguidores devotos de Kwan Yin podem
freqüentar templos locais e podem fazer peregrinações a templos maiores em
ocasiões importantes ou quando sofrem com um problema especial. Os três
festivais anuais realizados em sua honra acontecem no dia dezenove do segundo
mês (celebrado como o seu aniversário), do sexto mês, e do nono mês do
calendário lunar chinês.
Na tradição da Grande Fraternidade
Branca Kwan Yin é conhecida como a Mestra Ascensa que carrega a função e o
título de "Deusa da Misericórdia" porque ela personifica as
qualidades divinas da lei da misericórdia, compaixão e perdão. Ela passou por
numerosas encarnações antes de sua ascensão há milhares de anos e aceitou o
voto de bodhisattva para ensinar aos filhos de Deus não ascensos como
equilibrar seus carmas e cumprir seus planos divinos com serviço amoroso à vida
e a aplicação da chama violeta pela ciência da Palavra falada.
Kwan Yin
Kwan Yin precedeu o Mestre Ascenso
Saint Germain como Chohan (Senhor) do Sétimo Raio de Liberdade, Transmutação,
Misericórdia e Justiça e ela é uma de sete Mestres Ascensos que atuam no
Conselho do Carma, um conselho de justiça que medeia o karma das evoluções de
terra - dispensando oportunidade, misericórdia e os verdadeiros e íntegros
julgamentos de Deus a cada corrente de vida na Terra. Ela é a hierarca do
Templo etérico da Misericórdia situado sobre Pequim, na China onde ela mantém o
foco de luz da Mãe Divina em favor dos filhos da antiga terra da China, as
almas de humanidade, e os filhos e filhas de Deus.
Kwan Yin sobre o Dragão
Kwan Yin também é conhecida como a
bodhisattva protetora de P'u-t'o Shan , senhora do Mar do Sul e protetora dos
pescadores. Como tal, ela é mostrada cruzando o mar sentada ou em pé sobre um
lótus ou com seus pés na cabeça de um dragão.
Como Avalokitesvara, ela também é
descrita com mil braços e números variados de olhos, mãos e cabeças, às vezes
com um olho na palma de cada mão, e é chamada "bodhisattva de mil braços,
de mil olhos". Nessa forma ela representa a mãe onipresente, olhando
simultaneamente em todas as direções, sentindo as aflições da humanidade e
estendendo seus muitos braços para as aliviar com expressões infinitas de sua
misericórdia.
Os símbolos característicos associados
a Kwan Yin são um galho de salgueiro, com o qual ela esparge o néctar divino da
vida; um vaso precioso, simbolizando o néctar da compaixão e da sabedoria,
traços do bodhisattva; uma pomba representando a fecundidade; um livro ou um
pergaminho de orações que ela segura em sua mão, simbolizando o dharma
(ensinamentos) do Buda ou o sutra (texto budista) o qual Miao Shan, dizia-se,
recitava constantemente; e um rosário adornando seu pescoço, através do qual
ela clamava aos Budas por socorro.
Imagens de Avalokitesvara
freqüentemente mostram-na segurando um rosário; descrições de seu nascimento
afirmam ter ela nascido com um rosário cristalino branco em sua mão direita e
uma flor branca de lótus na esquerda. É ensinado que as contas do rosário
representam todos os seres vivos e o manuseio delas simboliza que
Avalokitesvara os está conduzindo para fora de seu estado de miséria e da roda
de repetidos renascimentos para o nirvana.
Hoje Kwan Yin é reverenciada por
taoístas e também pelos budistas Mahayana - especialmente em Taiwan, Japão e
Coréia, e novamente em sua pátria, a China, onde a prática do Budismo havia
sido suprimida durante a Revolução Cultural comunista (1966-69). Ela é a
protetora das mulheres, dos marinheiros, dos comerciantes, dos artesãos e
daqueles que se encontram sob perseguição criminal, e é invocada
particularmente por aqueles que desejam progênie. Amada como a figura da Mãe e
mediadora divina que está muito próxima dos negócios diários de seu devotos, o
papel de Kwan Yin como madona budista tem sido comparado ao de Maria, a mãe de
Jesus, no Ocidente.
(*) Leon Hurvitz, trans.,
"Scripture of the Lotus Blossom of the Fine Dharma (The Lotus Sutra) (New
York: Columbia University Press, 1976), p. 315.
diagramação: Ma Dharma, Mukti
ilustração: Ma Jivan, Avrati
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